Duas notas:
1. Volto à universidade para um encontro sobre Pedagogia Social.
Há quem interpele "Tu aqui?". Faz todo o sentido. Como educadora que devo ser. E porque trabalho numa organização e num meio carenciado e conheço os muitos problemas.
Muitos temas. Muitos oradores. Dou por mim a pensar que o ministério diminuiu há muito a possibilidade de os professores participarem em atividades de formação de apenas algumas horas. Os diretores das escolas, no exercício de uma autonomia, completamente estreita nos seus horizontes, coartam as diminutas possibilidades permitidas pelo ministério com o argumento das "razões pedagógicas".
No entanto, devia ser obrigatório, ter de ir de vez em quando à universidade ouvir quem investiga. Na escola, fechados nos seus muros, temos pouco tempo para investigar, para estudar. Dizemos frases feitas, à pressa, de uma vox populi pouco reflexiva e pensante, para justificar realidades. Desconhecemos a investigação e falamos por experiência, a nossa, sem considerarmos a do coletivo que é toda esta sociedade.
Tenho estudado muito nos últimos anos.
Mas dou por mim a pensar que cada vez sei melhor o quanto não sei. Ouço atenta quem sabe, na sua especialidade. Revisito o óbvio, "esquecido" algures na minha inteligência.
A escola, um lugar de inteligências e talentos, está amordaçada e impedida, por normativos legais, por questões ditas "pedagógicas", por questões ditas "financeiras" de se atualizar, de se reinventar.
Que pena! Que triste! Os educadores que se esforçam para estudar são uma minoria e perseguidos pelos outros.
Que pena! Que tristeza!
Porque o futuro não é só comprometido pela crise do dinheiro... Que pena! Que tristeza!
A escola da experiência não é suficiente. Tem de ser ancorada na vivência dos resultados da investigação. Devia ser obrigatória a formação contínua, sempre que o professor quisesse...
Mas é tudo ao contrário. Numa sociedade que se autoapelida de democrática, impera a tirania de quem manda.
Mais tarde, em casa, falando com uma colega, conta-me ela, que o diretor da sua organização proibiu os professores de faltarem. Nem os dias que a lei permite. Só por doença. Porque um dos parâmetros da avaliação do diretor é o número de faltas dos docentes que dirige.
Ninguém contraria.
Que pena! Que tristeza! Que hipocrisia!
2. Revejo uma ex-aluna minha, de há muitos anos, num curso à época designado de Técnico Profissional de Química.
É professora de FQ há muito, minha colega de profissão, portanto.
Recordo muito bem as aulas - eram muitas - a simpática turma, a cara gaiata da aluna e as questões que colocava nas aulas.
Encontrara-a há uns tempos na universidade e dissera-me que fazia mestrado.
Quando a vi, chamei-lhe mestre.
Achei-a fisicamente diferente mas não percebia porquê.
Que não. Interrompera o mestrado pois tivera dois filhos.
Gargalhamos. Acontece a muitas.
Dois rapazes com 19 meses de diferença (percebi por que a tinha achado diferente...)
O primeiro custou muito a conseguir. Foram precisos muitos tratamentos. O segundo foi super fácil :)
Do primeiro, esteve o tempo todo sem trabalhar, em repouso.
A posteriori pensei que não lhe tinham dito que esteve um ano letivo inteiro sem trabalhar, sem fazer nada e a ganhar o ordenado... (como me dizem a mim).
Teve sorte.
Quanto ao mestrado, vai reatá-lo para acabar.
Mas não disse nada na escola.
No início dissera. As reacções dos colegas não foram as melhores...
Agora só vai dizer no fim, quando tiver o grau.
Que pena! Que tristeza!
Que alma humana tão inacabada...