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It is not enough to have knowledge, one must also apply it.
It is not enough to have wishes, one must also accomplish
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Johann von Goethe


Sorriso..., inquietude, persistência, energia, conhecimento, acção, querer, determinação, resiliência... sempre!

quinta-feira, maio 09, 2013

O exame da 4.ª classe

Estou há 8 horas a trabalhar com números.
Vou agora trabalhar um pouco com palavras.
Acabei de ler "ainda bem que não fiz o exame da 4.ª classe".
É o mote.
Era miúda e sabia que havia exame para fazer no fim da 4.ª classe. 
Ouvia os adultos falar que tinha de se ir a outras escolas.
Mas o meu exame da 4.º classe foi na minha escola, apesar de haver outra mais importante bem perto.
A professora tinha sido sempre a mesma, da 1.ª à 4.ª classe e todos os anos e todos os finais de  período fazíamos exames que se chamavam "provas".
Passados dois anos de acabar a 4.ª classe fui buscar as provas todas à escola (no final do 1.º período da 1.ª classe já sabíamos ler e já saía no exame uma conta de divisão).
Foi assim que passados cerca de 30 anos pude ir comparando as minhas aprendizagens com as dos meus filhos e ir rabujando com a falta de treino de tudo - gramática, operações, reduções,... - com o uso da calculadora, com o estudo do meio, sempre com os mesmos temas nos 4 anos, com a falta de treino da escrita, com a falta de uso do dicionário para treinar a memória visual e não só, com a falta de estudo de um texto a nível gramatical, com a falta de tirar significados com os deveres de casa a escrever pela centésima milionésima vez "unidades de milhar de milhão e trilião"!
Tive de desistir!
Preocupei-me que era uma pena que estivessem a aprender tão pouco.
Pensei nos meus alunos fracos e nos seus percursos de vida escolar e ganhei esperança de novo.
Os miúdos - agora no 9.º ano - tiveram provas de aferição no 4.º ano.
Nada que se comparasse com o exame oral que tive de fazer perante a minha professora e mais duas.
Podia escolher-se o texto e depois era a sabatina da gramática.
Uma parte do dia, era a pior parte: a dos lavores.
Mantenho até hoje o saquinho que fiz a ponto de cruz.
Como a professora não treinava os lavores nas aulas, treinavamos nas férias em casa e lá deu no dia do exame para terminar o saquinho e mostrar o quão prendadas as meninas da altura podiam ser (então como agora, também havia o "faz de conta que ").
No final da prova, o júri, representado pela minha professora disse-me que, apesar de ter sido a melhor, não ia ficar com o prémio final.
Afinal, durante os 4 anos tinha ganho os prémios todos e com certeza que não me importaria de dar este último à colega que ficava sempre em 2.º lugar, a título de consolação.
Que podia uma criança responder com 10 anos?
Mas lembro-me do que pensei.
Lembro-me de como ganhei os prémios todos. 
Porque sim. Até tinha dificuldades na aritmética mas tinha de as superar. Parece que lá ia conseguindo...
Mas fiquei traumatizada.
Até hoje.
Não com o exame.
Até nem gostava de exames pois era muito tímida e não gostava de ralhetes.
Nesse ano estreava-se o ciclo preparatório e não foi preciso ir para o colégio que exigia exames.
No ciclo preparatório, bastava ter média de 14 nos 2 anos para se dispensar de exames.
Voltei a fazer 2 exames no final do liceu e os obrigatórios orais e escritos para os cursos de inglês.
Depois fiz 5 anos de um curso com cadeiras (era assim que se dizia) todas semestrais, com exames práticos, teórico-práticos e teóricos e orais e...
Tive que fazer uma oral que correu mal mas safei-me muito bem, disse o professor perante o meu espanto. Tinha que fazer outra para defender a nota que era alta ou passava uma fasquia estipulada pela Faculdade. Não fiz a oral. Não compensava o gasto de adrenalina. A nota baixou.
E dissertação no 6.º ano em provas públicas.
No final do curso, aconteceu o mesmo que na primária: tive a melhor nota mas fiquei com média de 14,4.
Na vida profissional as coisas correm uns anos melhor, outros anos pior que isto de trabalharmos todos de forma inacabada é muito complexo.
Volto à Universidade muitas vezes para formações mais ou menos complexas.
Continua a acontecer o mesmo tipo de metáfora do exame da 4.ª classe: de vez em quando lá vem um que se engana na nota, não reconhece o erro e não corrige.
(quando for grande não quero ser assim).
Os exames obrigaram-me a "perder" alguma timidez.
Acho que não fiquei traumatizada.
Ou antes, estou traumatizada com as injustiças.
O resto não é problemático.
Os miúdos estão no 9.º ano.
Fartam-se de fazer testes intermédios e encaram com alguma serenidade os exames de Mat e Port, embora a passagem do ano dependa disso.
Os miúdos que esta semana fazem os exames do 4.º ano deviam saber desde o 1.º ano que os teriam de fazer.
Esse é que é o trauma, apesar de contar pouco e servir (?) para aferir o estado da arte.
"Ainda bem que fiz o exame da 4.ª classe?"
Pois não sei responder.
Está feito.