No que diz respeito à Educação, as novas tecnologias colocam a necessidade de se equacionar não só o que hoje é importante aprender como as formas de realizar essa aprendizagem. As relações entre a educação e as transformações económicas, sociais e tecnológicas não podem circunscrever-se a uma adaptação simples do sistema de educação a essas mudanças.
É frequente ouvirmos hoje, como argumento para a mudança de paradigma educacional, a necessidade de formar cidadãos aptos e funcionais, face às novas exigências sociais que, sobretudo, as mudanças tecnológicas têm vindo a determinar. Mas, no centro deste argumento está o entendimento das pessoas como cidadãos produtivos. Este constitui um aspeto relevante da educação mas não pode constituir a sua principal finalidade. Mudar de paradigma educacional requer uma nova cultura de aprendizagem, onde as novas tecnologias contribuam para o desenvolvimento dos alunos enquanto cidadãos que saibam pensar e não andem a reboque de uma sociedade em que os valores economicistas prevalecem e em que se criam novas formas de exclusão. Integrar as novas tecnologias na Escola deve pois dar lugar a novas formas de aprendizagem e contribuir para que a educação transponha a cultura tradicional de transmissão de conhecimentos para uma cultura da investigação e da construção de saberes, onde a Escola está aberta à comunidade e ao mundo, e onde o professor intervém, orienta, problematiza, desafia, encoraja, faz pensar, mas também aprende com os alunos e com eles constrói conhecimento. Significa isto a necessidade de novas formas de organização do trabalho, do tempo e dos espaços escolares; romper com a organização rígida de programas, horários e das classes/turmas, bem como com a compartimentação do saber e com as formas desprovidas de significado definidas para lhe aceder. A lógica de compartimentação do saber, por exemplo, que persiste na Escola de hoje, descontextualiza o conhecimento. Ora os contextos tornam-se cada vez mais necessários para dar significado ao oceano imenso de informação em que vivemos.
Não entendemos a tecnologia como a salvação da Escola, até porque esta terá sempre dificuldade em acompanhar o ritmo das inovações tecnológicas. O que está em causa é reequacionar o papel da educação em função da sociedade que queremos construir, onde as tecnologias terão de certo um papel determinante, mas onde a Escola deve assumir novas responsabilidades, essenciais na formação e no desenvolvimento humano. Quanto mais tecnológica se torna uma sociedade, mais se tornam necessárias respostas humanas compensatórias. Como refere António Nóvoa, é na relação humana que a educação encontra o seu sentido fundamental.
Profª. Doutora Lúcia Amante, Diretora do Departamento de Educação e Ensino a Distância (DEED)